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Um daqueles textos que a gente acha na gaveta, depois de anos que se passaram. Finalmente achei o local e o momento de publicar 🙂
A filosofia da ciência não pode ser aplicada ao estudo da vida, que conhecemos por biologia. Isto deve-se principalmente ao caráter reducionista em que esta filosofia se baseia. A vida não deve ser analisada a partir de suas partes.
A evolução é um bom exemplo desta nova tendência exclusiva da Filosofia da Biologia (ler Mayr, Biologia, Ciência Única – texto original What Makes Biology Unique?: Considerations on the Autonomy of a Scientific Discipline
).
Ela não age apenas no genoma, que seria a redução da espécie, mas em um organismo como um todo. A seleção natural tem como alvo a entidade holística conhecida como indivíduo. Como argumento para esta teoria, há a questão de que numa escala de complexidade, cada nível superior agrega novas características não encontradas naquele imediatamente anterior, até chegarmos nos novos queridinhos da ciência, os genes. O ecossistema não é apenas um conjunto de populações, uma população não é apenas um conjunto de indivíduos da mesma espécie, um indivíduo não é apenas um conjunto de sistemas orgânicos, tecidos e células, e uma célula não é apenas um conjunto de genes e seus produtos. O exemplo da co-evolução é uma boa pedida para aqueles descrentes nesta teoria.
Quanto às teorias envolvidas com a filosofia da ciência, não acredito que apenas uma teoria possa ser aplicada à biologia, como por exemplo, a menina dos olhos de Thomas Kuhn, a teoria dos paradigmas. Embora vários paradigmas tenham sido quebrados ao longo da história da biologia, bem como da ciência em geral, alguns casos não se aplicam. A seleção natural como principal mecanismo de evolução é um paradigma que se estabeleceu, e parece não mudar, nem haver perspectivas para tal mudança. Parece que para a Biologia é bem mais útil a falsificação, pois a verdade absoluta não deve ser facilmente alcançável.
O ser humano e sua ousadia em saber tudo… gosto de acreditar que certas verdades nunca serão descobertas por nós. Para este que lhes escreve, esse é o grande segredo, a grande verdade da vida, e isto traz beleza e fascinação à biologia e seus devotos, pois sempre haverá algo novo a se descobrir.